sexta-feira, 23 de maio de 2008

Encontro inesperado


Sabe aqueles encontros inesperados que acontece em nossas vidas com pessoas que já foram tão importantes para nós, pessoas antes tão íntimas que se tornaram tão distantes. Em geral, estes encontros começam com sorriso de canto de boca forçado, algumas vezes não passa disso, outras vem acompanhado de um cumprimento formal, como se forcemos pessoas comuns um para o outro, mesmo sabendo que não, tem oportunidade que ate sai um dialogo bem objetivo e frio e você olha nos olhos daquela pessoa que um dia foi à razão de sua existência, e agora por petulância do destino você não conseguiu dizer o que realmente gostaria. Muitas vezes dizemos que estamos ótimos, mas na verdade queríamos dizer que ela ainda é importante pra gente, que ainda pensamos no tempo que estivemos juntos, que nos lembramos de seu aniversario mesmo que não liguemos para dar parabéns. Você não sabe se ela também pensa assim, mas quando seus olhos se encontram, você percebe que ela ainda passa a mão no cabelo quando está nervosa e que seus olhos ainda brilham ao te ver, que ela ainda é refém de sua presença, assim como você é da dela. Depois você se despede sem falar ou ouvir o que realmente queria e a única coisa que resta é uma alegria angustiante que muda seu dia com pensamentos diversos. Esse tipo de encontro machuca muito, porém deixa uma ferida gostosa de saudade de alguém que hoje você finge não ser nada, mas que sabe que é muito especial e especial demais para serem só amigos de papos longos. O que me consola é saber que se percebo tudo isso creio que ela também percebe. Na verdade, vivemos na esperança de um dia termos um encontro, onde possa ser eu e ela possa ser ela, ou que possamos ser nós, com nós mesmos.

Ricardo de Souza Ângelo

Mãe


Mãe é anjo sem asas
É amar além do amor
É doar-se alem da dor
É gerar só por amor

Mãe é morrer se preciso for
Pelo filho do seu amor
Que das suas entranhas saiu
Na alegria vestida com dor

Mãe é acordar em meio a noite
Para acolher em seu colo terno
E sustentar com sua vida
Através do alimento materno

Mãe é coração sangrando
É doar-se por sua cria
É viver sempre amando
Na tristeza ou na alegria

Mãe é agir com sentimento
E amor incondicional
É estar em favor do filho
Ainda que irracional

Mãe é ter para onde voltar
Quando não se tem para onde ir
É ter onde chorar
Quando não temos motivo pra sorri

Mãe é café na cama
É chá quanto se esta resfriado
É frango no fim de semana
É não querer ver o filho magoado

Mãe é morte aceitável pelo filho
Mas o filho não é morte aceitável pela mãe
Porque o filho não vive para mãe
Mas para a mãe o viver são os filhos

Mãe é uma dádiva de Deus
É presente divino
É sempre ver o filho
Como fosse um menino

Mãe é palavra não dita
É língua não inventada
É dicionário incompleto
Mãe é mãe e mais nada!
Ricardo de Souza Ângelo

A tristeza

Tristeza que me faz feliz
Hoje triste sim... Angustiado talvez
Mas feliz não mais...
A tristeza virou minha inimiga íntima
Já nem sei se ela é inimiga.
Pois sua companhia já me é desejada
Ela já é amante das minhas noites.
E com ela passo todos os momentos de dor
A tristeza já me deixa feliz
E a felicidade já me deixa triste
Já não sei separar uma coisa da outra
Ou a outra coisa de uma
Só sei que triste estou
Aquela tristeza gostosa que faz sentir frio
Aquela tristeza aconchegante
Não que eu seja masoquista
Mas é que a tristeza já faz parte de mim
E não sei se quero que ela vá embora
Quando estou alegre sinto crise de abstinência
Por falta da minha tristeza de estimação
Tristeza não só da ausência de alegria
E muito menos falta de felicidade
Tristeza e pensamentos inacabados
E momentos no quarto sozinho
E viver a angustia com prazer
E prazer mesmo no sofrer
Ricardo de Souza Ângelo

Hoje eu não queria ser eu


Hoje eu acordei com raiva de mim
Eu queria não ser eu
Não sei o que queria ser
Mas eu, com certeza, não queria
Queria não pensar como penso
Só por hoje eu queria ser outro
Pois já não suporto mais minha presença
E me ouvir já está insuportável
Não agüento mais minhas neuroses
Quero ser uma outra pessoa
Com outras manias e hobbis
Quero odiar as coisas que gosto
E gostar das coisas que odeio
Quero parar de ser naturalista
Quero desmatar a Amazônia
Matar o boto cor de rosa
Extinguir a arara azul
Hoje eu não quero ser eu
Este ser pensante que questiona tudo
Só hoje queria acreditar que as pessoas são boas
Que o mundo é um bom lugar para se viver
Que o sonho não acabou
Hoje eu não queria ser eu
Queria ficar longe de mim mesmo por um tempo
E saber se teria saudade de mim
Será que eu sentiria minha falta?
Ou minha ausência não seria sentida nem por mim
Hoje eu só queria ser outro
Ainda que o outro fosse pior do que eu.
Ricardo de Souza Ângelo

Poesia da Salvação


Longe de ti, nasci.
Cresci sem te adorar
Quando pensava ter tudo, não te ofereci nada
Quando nada tinha, o Senhor me ofereceu tudo
Mesmo me rebelando me amou
A cruz que era minha ele tomou
A morte que eu procurei foi ele quem achou
Logo, de pecador a santificado passei
Santificado sim, sem pecado não ainda
Criatura agora não sou mais
Pois filho logo me tornei
Aceitei a Jesus Cristo
Não como sábio, filósofo ou profeta.
Mas aceitei como meu Salvador
O Senhor da minha vida
O capitão da minha alma
O merecedor do meu amor
Pois antes que eu o amasse
A sua vida ele entregou
Para cumprir o seu propósito
E manifestar a sua graça
Escreveu com sofrimento e dor
A mais linda das poesias
O seu título era amor
Poesia escrita com sangue
Sangue do meu redentor
Onde a cruz era a pena
Que sobre seu corpo escreveu
O pagamento da promissória
Que condenava você e eu.
Ricardo de Souza Ângelo

A dor de Cristo


Foi à dor da traição
Traição de um discípulo
Que com um beijo algemaram sua mão
E feriu seu coração

Foi à dor do abandono
Da fuga de seus amigos
Dos mesmos que ele orava
Enquanto estavam dormindo

Foi à dor da negação
Negação de um amigo
Amigo que o negou três vezes
Um amigo chamado Simão

Foi à dor da humilhação
Cuspiram em sua face
Face do Deus-homem
Que trazia a salvação

Foi à dor da multidão
Que o rejeitou com um clamor
Os mesmos que comeram o pão
Multiplicado pelo meu senhor.

Foi à dor do seu povo
Daqueles que preferiram o assassino Barrabás
A um humilde carpinteiro
Conhecido como príncipe da paz

Foi à dor do chicote, da coroa de espinho
Do carregar a cruz pesada
Na via dolorosa
Da queda no caminho

Foi à dor do gogota
No prega os pés e a mão
Ao levantar da cruz
No zombar da multidão

Foi dor do pecado
De pecados que ele não cometeu
Pecados meu e seu
Pecados que ali morreu

Foi à dor da ira de Deus
Recebida em nosso lugar
E com o grito esta consumado
Morreu pra nos salvar.
Ricardo de Souza Ângelo

De todas que me apaixonei...

De todas que me apaixonei
Você não foi a mais bela nem a mais fera,
De todas que me apaixonei
Você não foi nem a mais delicada nem a mais meiga
De todas que me apaixonei
Você não foi a que eu mais abracei nem a que eu mais beijei
De todas que me apaixonei
Você não foi a mais fácil nem a mais difícil que conquistei

De todas que me apaixonei
Você não foi a que mais me dediquei ou mais me importei
De todas que me apaixonei
Você não foi nem a mais frágil nem a mais forte
De todas que me apaixonei
Você não foi a mais plebéia nem a mais nobre
De todas que me apaixonei
Você não foi a mais humilde nem a mais culta

De todas que me apaixonei
Você não foi mais alta nem a mais baixa
De todas que me apaixonei
Você não foi a mais morena nem a mais clara
De todas que me apaixonei
Você não foi a primeira nem a ultima
Mas de todas que me apaixonei
Você foi à única que realmente eu amei.
Ricardo de Souza Ângelo

Hoje eu a vi

Hoje eu a vi,
Vi como nunca tinha visto antes,
Não estava com lindas vestes,
Mas linda com certeza estava,
À vela senti-me triste,
Como triste era a manhã deste dia
Que nem o sol se dispôs a brilhar.
Meus olhos buscavam exílio nos dela
E os dela não buscavam nos meus
Logo percebi que sua face fugia de mim
Então me calei mesmo falando.
Eu queria dizer tantas coisas,
Mas acabei não dizendo nada,
Ou melhor, nada que eu realmente queria dizer,
Fiquei ali a admirá-la,
Sentindo meus lábios falar coisas sem nexo
Percebi em sua face meiga,
Que ela também não entendia nada
Mas penso que ambos entendemos tudo,
Ali desarmados, feridos,
Percebemos que o tempo além
Das pessoas e os seus sentimentos,
Muda também o jeito da comunicação,
Antes calorosas palavras que fluíam,
Hoje forçadas palavras rígidas e frias,
Mas o que mais nos deixa pensativos,
É que dentro de nós, lá no fundo.
Ainda somos os mesmos,
Mesmo que parecêssemos estranhos.
Ricardo de Souza Ângelo

Como nasce e morre um beijo?

Nasce com um olhar,
Olhar suspeito quase receoso
Olhar que vira atração
Atração predatória
Como um leopardo em busca de sua presa

Morre no bater dos dentes
No gosto não esperado
No horário chegado
No calor venerado

Nasce com um sorriso
Sorriso meigo sedutor
Sorriso de cumplicidade
Cumplicidade insana
Como um louco sem paz

Morre nos lábios sedutores
No queixo furado
No pescoço perfumado
Na mão boba ao lado

Nasce com um toque
Toque quente quase blasfemo
Toque de desejo
Desejo quase incontrolável
Como uma crise de abstinência

Morre na falta de fôlego
No medo de ir além
No pecado proibido
No desejo condenado

Nasce da alma aflita
No clamor do corpo
De lábios pecadores
Dos corações apaixonados

Morre na língua dúbia
Na boca adultera
Nos lábios traídos
Dos olhos infiéis.
Ricardo de Souza Ângelo

O poeta, a cena, e a pena

O poeta e uma pena
E uma tinta e uma cena
Um olhar sem calar
Na pena seu paladar

O poeta é pintor
Seu pincel é a pena
Sua tela o papiro
As palavras na cena

O poeta é alma com pena
É paixão escrita sem tema
É amor na ponta da pena
É viver sempre um dilema

O poeta é sentimento vivido
É sofredor do amor bandido
O amor na margem da cena
Descreve com sua pena

O poeta é alma fora da cena
Com lágrimas de tinta
Revela a alma com a pena
Com o coração dentro da cena

O poeta é amor rejeitado
Quer chorar com sua pena
O amor que não o deixou
Participar da cena

Ricardo de Souza Ângelo

Solidão


Solidão não é estar só
É estar sem...
Sem seu sorriso, sem seu calor
Sem seus beijos, sem sua dor

Solidão não é estar longe do corpo
É estar longe da alma
É corpo presente de alma ausente
É estar perto de alguém,mas sem...
Sem seu carinho, sem seu amor

Solidão não mata, mas frustra a vida.
Não deixa só, mas solitário.
Não é ausência de amor
Mas amor ausente.

Ricardo de Souza Ângelo