sábado, 5 de abril de 2008

Velha infancia


Em meio à correria do dia a dia às vezes nos perdemos com a crueldade do tempo, que tende a nos engolir, e esquecemos de partes importantes de nossas vidas, como a nossa infância. Acredite, existia vida antes do play station, internet, MP3, e toda esta parafernalha que achamos tão indispensáveis hoje. Dias atrás, um fato me fez relembrar a minha infância perdida: foi quando o cruel progresso camuflado de blocos de concreto cobriu o chão de terra de minha rua, ao ver a alegria nos olhos de todos aqueles que não mais iriam pisar na lama, nem no pó da terra, confesso que por alguns instantes esta alegria me atingiu, como também me atingiu um saudosismo sufocante, quando uma espécie de vídeo tape dentro de mim repassava toda minha infância de maneira tão real. Lembrei-me dos desenhos que fazia sobre a tela natural criada após a chuva que caía sobre a terra, fazendo dela matéria-prima para nossa criatividade. Me lembrei também das represas que fazíamos para deter a correnteza da chuva, dos riscos das amarelinhas, dos triângulos de biroscas, do pião furando o chão, tantas lembranças que hoje estão encobertas não só pelo concreto feito de areia e cimento, mas daquele feito pelo tempo, que insiste em apagar da nossa memória uma das partes mais felizes das nossas vidas, mas o que me conforta é saber que estas lembranças não são só minhas e sim de todos aqueles que a viveram, e quando nós nos encontrarmos teremos a certeza que nem o progresso, nem mesmo o tempo pode apagar estes momentos que foram vividos para serem eternos. Como eterno é tudo aquilo que é inesquecível.

Ricardo de Souza Ângelo

Um dia Especial


Dias vêm, dias vão, como um rio que deságua no mar e não volta mais, mas esta mesma água corrente deixa suas marcas por onde passa, deixando feridas nas margens como sinal de que um dia passou por ali, assim também em nossas vidas os dias passam de forma tão rápida que não percebemos o real valor de cada dia, de cada instante, de cada momento, de cada ferida na margem, mas tem aqueles dias que a correnteza vem mais forte como uma itsuname não só ferindo as margens, mas a rasgando dando a ela uma nova forma deixando um sinal mais que visível, mostrando-nos que algo muito forte aconteceu. Assim alguns dias de nossas vidas fogem totalmente do nosso cotidiano nos dando mais do que horas entre o nascer e o pôr do sol, estes dias são aqueles que você nunca ira esquecer, mesmo que ele não tenha uma borda vermelha no calendário ele será um dia especial, não por algum fato histórico, mas pelo simples valor dos momentos que este dia proporcionou. Às vazes estes dias se tonam especiais não pelo que você fez, nem muito menos pelo lugar em que você estava, mas se tornou especial pelo simples fato de com quem você fez e com quem você estava. Dias especiais como estes passam rápido, fazem com que as horas pareçam segundos, fazem com que o mundo se torne pequeno, mas não solitário, simples, mas jamais fútil, simples detalhes porem inesquecíveis, dias como este jamais acabam pois a memória nos faz com que sejam revividos a cada lembrança ,a cada fuga da realidade. O bom é que estas lembranças nos dão uma esperança de que cada dia será uma nova oportunidade de um dia especial, mesmo sabendo que estes dias são raros, como e raro tudo aquilo que é perfeito, sublime e encantador. Talvez dias especiais como estes nunca mais venham acontecer, mas o que realmente importa não é se vai voltar a acontecer, mas sim já ter acontecido, e é isto que faz dele um dia especial.
Ricardo de Souza Ângelo.

O que é ser especial


Estes dias me afogando na minha melancolia resolvi pensar naquelas pessoas que chamamos especiais, o que realmente faz com que elas mereçam este titulo tão sublime, o que realmente é especial? Hoje temos valores muito frágeis vemos pela tv e jornais pessoas sendo chamadas de especiais por terem sucesso no esporte, por ganharem títulos ou quebrarem recordes, outros são chamados especiais pelo nível intelectual ou cultural que adquiriram, por outro lado tem aqueles que são chamados de especiais por serem pessoas menos favorecidas.Na minha humilde opinião todos os dois lados estão errados, uma pessoa não é especial por aquilo que tem ou deixou de ter, mas por aquilo que ela é. O belo, o perfeito, o sublime esta acima do recorde, do intelecto, da falsa piedade, pois alguém só é especial quando ele mesmo acredita não ser, mas é . Nenhuma das pessoas especiais que eu conheço ganhou o prêmio Nobel de ciência, ou participou de alguma olimpíada ou algo parecido, mas são especiais pelo simples fato de serem gente como a gente; gente que ri, gente que chora, gente que diz tudo e gente que não diz nada, gente que gosta de estar perto, gente que gosta da voz, gente que faz raiva, gente que nos faz feliz, gente que gosta da gente, se você conhece este tipo de gente saiba que você também é especial por ter gente como estas ao seu lado, e espero que você, eu, todos nós sejamos gentes assim especiais pelo único mérito de ser gente. E nunca se esqueça se uma pessoa não é especial para você não quer dizer que ela não seja para alguém, porque ser especial não é ser uma unanimidade, na realidade nós só somos especiais para um número muito pequeno de pessoas, e é realmente isto que nos faz especiais para elas e elas para nós. Mas infelizmente temos a tendência de só perceber que uma pessoa é especial quando sentimos sua falta, quando vemos sua partida e lembramos como era boa sua presença, que possamos entender os valores destas pessoas na simplicidade do nosso dia a dia antes que elas partam.

Ricardo de Souza Ângelo

Os cinco sentidos


Visão, audição, tato, olfato e paladar.
Cinco sentidos, que às vezes perdem o sentido.
Para que visão, se vemos mal?
Se vemos o que não deve
Ou só vemos o que nos convém
Seria errado dizer,
Que somos cegos que enxergam.
Ou que enxergamos cegamente
Não seria cego aquele que e privado
de ver a quem mais deseja?
Do que vale ver, se nossos olhos,
não vêem quem eles procuram?
Para que audição? se nos tornamos surdos
Por não sabermos ouvir,
E por não podermos ouvir o som
de quem se deseja.
Ou pior, ouvir o que não se deseja,
Da pessoa que deseja
Ou não seria melhor ser surdo?
Do que serve o tato?
Se não podemos tocar o que nos fascina.
Do que vale tão sublime sentido?
Se não podemos acariciar o objeto da nossa admiração.
E do que serve o olfato?
Se o cheiro que me sacia, foge de mim.
Do que vale todas as outras fragrâncias?
Se me é negada a única que minha alma deseja.
A única que queria infiltrado em minha pele.
E o que podemos dizer do paladar?
Sentido este que nos dá o sabor
Que nos diz se algo é gostoso ou não
Mas de pouco vale o paladar
Para aqueles que não sabem o que saborear
Ou muito pior, aqueles que sabem.
E não podem saborear.

Ricardo de Souza Ângelo

O sonho


Esta noite tive um sonho...
Sonhei que tinha encontrado alguém especial.
Alguém que eu não podia ver, nem tocar.
Alguém que eu só podia ouvir e sentir
Alguém que me fazia feliz,
Alguém que me fazia lutar.
Alguém que me fazia sorrir,
Quando eu só queria chorar.
Alguém que me ensinou a orar
Como uma criança, e lutar como homem.
Alguém que me fez acreditar no amor,
Quando este já em mim estava extinto.
Alguém que me tirou de um mundo só meu,
E me deu parte do seu.
Para que tivéssemos um só mundo.
Neste mundo, havia flores num jardim.
Havia príncipe e princesa.
Havia amor que não tem fim.
Havia menino sonhador,
havia menina apaixonada, esperando na janela.
Havia promessas minhas, e dela,
Promessas de corpo, e de alma.
Promessas de busca, e espera,
Promessas de luta eterna.
Parecia um sonho irreal, ou um real sonho,
Parecia perfeito, perfeito demais para ser verdade.
Parecia um amor, que o mundo nunca havia visto,
Ou que o mundo não estivesse preparado para ver.
E foi quando eu acordei, e que percebi que era apenas um sonho...
Mas hoje vivo a dura realidade,
Mas na esperança de um novo sonho,
Mas um sonho no qual não venho nunca precisar acordar...

Ricardo de Souza Ângelo

Eu vejo o presente repeti o passado


Eu vejo o presente repetir o passado
Eu vejo um rosto com algumas novidades
Eu vejo detalhes antes me negado
Eu vejo quem é, como se fosse quem foi.
Eu vejo o mesmo olhar numa face diferente
O mesmo sorriso em outros lábios
E como se o tempo lhe tivesse poupado
E lhe esculpido de novo ainda mais bela
Como pode dois seres ter a mesma essência.
Essência essa que sempre me encantou
Assim também como sempre me confundiu
Confunde-me, pois não sei o que diz,
Ou talvez porque tenha medo de saber
Antes eu tinha a desculpa da imaturidade
Hoje a desculpa fútil da cautela
Mas o certo e que sou tão vulnerável
E frágil como sempre fui,
Diante desta face que me encanta.

Muda-se o seu nome, muda-se o tempo,
Mais seu olhar e seu sorriso
Refleti a sua essência que é permanente
Permanência que me confronta
Contra minha própria natureza racional
Como quem zomba da própria razão.
Percebi que esta essência me afeta
Assim também como é afetada
Hoje descobri que sou refém desta essência
Independente de que trajes mortais ela veste.
Que ela transcende não só a linha do meu raciocino
Como também a linha do próprio tempo
Formando uma simbiose perfeita
Entre passado e presente
Como se o tempo e o espaço fosse
Um Eterno vai e vem da historia
Que nos dão novas oportunidades
De acertar o que erramos
Pra fazer o que não fizemos
Dizer o que não dizemos
E ser o que não fomos...

Ricardo de Souza Ângelo

A ilusão desejada


Eu sou a ilusão que desejas
Você é o desejo das minhas ilusões
Eu sou a fantasia que te fascina
Você é o fascínio das minhas fantasias
Eu sou seu sonho mais sonhado
Você é o meu mais sonhado sonho
Eu sou a face oculta da sua realidade
Você é a realidade mais oculta da minha face
Eu sou a magia que te encanta
Você o encanto da minha magia
Eu sou a loucura do seu juízo
Você o juízo da minha loucura
Ilusão e desejo andam juntos,
Na ilusão de que posso eu desejá-la
Eu vivo nesta fantasia de que um dia eu poderei tocá-la
E como um anjo que tanto me fascina
Eu sonho com seus beijos de menina
Mesmo sabendo que lábios pecadores como o meu
Podem morrer ao tocar lábios tão santos como os seus
Na realidade da minha pecadora natureza
Cobre-me o manto da tristeza
Por não poder tocá-la minha princesa
Queria ser puro como sua face e santo como seu coração
Só para poder tocar sua alma e sair desta solidão
Eu me confundo com a magia e a insensatez
Que como louco fico sem juízo, insano talvez.
Mas esta loucura me traz a ilusão que eu mais desejo
De que um dia tu também me deseje.

Ricardo de Souza Ângelo