sábado, 5 de abril de 2008

Velha infancia


Em meio à correria do dia a dia às vezes nos perdemos com a crueldade do tempo, que tende a nos engolir, e esquecemos de partes importantes de nossas vidas, como a nossa infância. Acredite, existia vida antes do play station, internet, MP3, e toda esta parafernalha que achamos tão indispensáveis hoje. Dias atrás, um fato me fez relembrar a minha infância perdida: foi quando o cruel progresso camuflado de blocos de concreto cobriu o chão de terra de minha rua, ao ver a alegria nos olhos de todos aqueles que não mais iriam pisar na lama, nem no pó da terra, confesso que por alguns instantes esta alegria me atingiu, como também me atingiu um saudosismo sufocante, quando uma espécie de vídeo tape dentro de mim repassava toda minha infância de maneira tão real. Lembrei-me dos desenhos que fazia sobre a tela natural criada após a chuva que caía sobre a terra, fazendo dela matéria-prima para nossa criatividade. Me lembrei também das represas que fazíamos para deter a correnteza da chuva, dos riscos das amarelinhas, dos triângulos de biroscas, do pião furando o chão, tantas lembranças que hoje estão encobertas não só pelo concreto feito de areia e cimento, mas daquele feito pelo tempo, que insiste em apagar da nossa memória uma das partes mais felizes das nossas vidas, mas o que me conforta é saber que estas lembranças não são só minhas e sim de todos aqueles que a viveram, e quando nós nos encontrarmos teremos a certeza que nem o progresso, nem mesmo o tempo pode apagar estes momentos que foram vividos para serem eternos. Como eterno é tudo aquilo que é inesquecível.

Ricardo de Souza Ângelo